Terra está girando mais rápido e ameaça relógios, satélites e sistemas digitais

Terra está girando mais rápido
Terra está girando mais rápido e ameaça relógios, satélites e sistemas digitais

A Terra está girando mais rápido, e isso, embora imperceptível para o dia a dia da maioria das pessoas, tem preocupado cientistas, cronometristas e especialistas em tecnologia ao redor do mundo. No dia 10 de julho de 2025, o planeta registrou o dia mais curto do ano, com 1,36 milissegundos a menos que as 24 horas tradicionais, segundo dados do Serviço Internacional de Rotação da Terra e do Observatório Naval dos EUA.

Esse encurtamento não é um evento isolado. Outros dias mais curtos já estão previstos, como 22 de julho e 5 de agosto, com durações ainda menores. E embora pareça inofensivo, esse fenômeno tem potenciais consequências reais para sistemas globais que dependem da medição precisa do tempo — incluindo satélites, redes de telecomunicações, transações financeiras e infraestrutura digital.

Por que a Terra está girando mais rápido?

A rotação do planeta sofre influência de vários fatores naturais, como:

  • Gravidade da Lua, que afeta o movimento rotacional com base em sua posição em relação ao equador;
  • Mudanças sazonais na atmosfera, especialmente no verão, que provocam variações no momento angular do planeta;
  • Movimento do núcleo líquido da Terra, que desacelera enquanto a crosta sólida acelera;
  • E mais recentemente, o derretimento de gelo polar, causado pelas mudanças climáticas, tem redistribuído a massa da Terra, alterando sua rotação e até seu eixo.

O que está em risco com essa aceleração?

Pequenas variações no tempo de rotação não afetam nossa rotina comum, mas são cruciais para tecnologias modernas. Os relógios atômicos, que contam oscilações de átomos com extrema precisão desde 1955, determinam o Tempo Universal Coordenado (UTC) — base para toda a sincronização de tempo no mundo, inclusive para sistemas de navegação por GPS, redes elétricas, mercados financeiros e internet.

Historicamente, quando o tempo da rotação da Terra desacelera em relação ao tempo atômico, é adicionado um “segundo bissexto” para realinhar os dois. Desde 1972, 27 segundos bissextos já foram adicionados. No entanto, desde 2016, nenhum novo segundo foi incluído, e agora os cientistas consideram a possibilidade inédita de um “segundo negativo”, que removeria um segundo do UTC para compensar a rotação mais rápida.

Segundo especialistas como Duncan Agnew e Judah Levine, a chance de precisarmos de um segundo negativo até 2035 é de aproximadamente 40%.

Um segundo negativo pode causar problemas?

Sim, e grandes. Diferente do segundo bissexto positivo, que já é conhecido e relativamente bem controlado, nunca foi implementado um segundo negativo. O temor é que sistemas que operam com sincronização de tempo rígida possam falhar ao tentar “remover” um segundo. Isso lembra o problema do bug do milênio (Y2K), quando se temia que computadores não soubessem interpretar a virada do ano de 1999 para 2000.

Como muitos sistemas digitais ainda apresentam falhas até hoje com segundos positivos, a introdução de um segundo negativo poderia provocar erros em larga escala, afetando desde bancos até operações espaciais.

Mudanças climáticas também influenciam a rotação?

Surpreendentemente, sim. Um estudo recente mostra que o derretimento de gelo na Groenlândia e na Antártida tem desacelerado a rotação da Terra, compensando em parte a tendência de aceleração. Isso ocorre porque, ao derreter, o gelo redistribui massa para os oceanos, alterando o equilíbrio rotacional do planeta — como um patinador que abre os braços para girar mais devagar.

Sem esse efeito, segundo Agnew, já estaríamos enfrentando um segundo negativo hoje.

O que podemos esperar nos próximos anos?

A tendência de dias mais curtos está clara, mas como explica o físico Judah Levine, é difícil prever com precisão a longo prazo. As variações diárias seguem uma lógica de curto prazo, mas podem se reverter. O Serviço Internacional de Rotação da Terra só faz previsões com até um ano de antecedência.

Para o cientista Benedikt Soja, da Suíça, o futuro depende também do ritmo do aquecimento global. Caso a emissão de gases de efeito estufa continue acelerada, a influência climática pode superar até mesmo a força da gravidade lunar na definição da velocidade da rotação da Terra.

Com informações de CNN Brasil.

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