Influenciadores virtuais: por que nos apaixonamos por quem não existe?

Influenciadores virtuais
Influenciadores virtuais: por que nos apaixonamos por quem não existe?

Vivemos em um tempo onde o digital e o real se confundem cada vez mais. Em meio a esse cenário, uma figura surpreendente ganhou espaço nas redes sociais: os influenciadores virtuais. Eles não existem fisicamente, mas têm milhões de seguidores, estrelam campanhas publicitárias, lançam músicas, interagem com fãs — e o mais impressionante: despertam emoções reais em nós.

Mas afinal, por que nos apaixonamos por quem não existe? O que leva tantas pessoas a seguirem, admirarem e até se conectarem emocionalmente com personagens criados por computação gráfica e inteligência artificial?

Neste artigo, vamos explorar esse fenômeno sob diversas perspectivas: tecnológica, psicológica, comportamental e mercadológica. Prepare-se para entender não apenas o que são influenciadores virtuais, mas também o que eles revelam sobre nós mesmos.

O Que São Influenciadores Virtuais?

Personagens digitais com vida (quase) real

Influenciadores virtuais são avatares criados com o uso de tecnologias como modelagem 3D, inteligência artificial, animação facial e machine learning. Eles têm aparência humana, estilos próprios, rotinas fictícias e “personalidades” cuidadosamente construídas por equipes criativas.

Mas, diferentemente de mascotes ou personagens de ficção, eles atuam como pessoas reais nas redes sociais: publicam fotos, comentam tendências, participam de campanhas de marketing e até interagem com os seguidores.

Exemplos que você talvez já conheça

  • Lil Miquela (EUA) – Com milhões de seguidores, essa influenciadora é modelo, cantora e já participou de campanhas para marcas como Prada e Calvin Klein.
  • Lu do Magalu (Brasil) – Criada pela Magazine Luiza, é uma das influenciadoras digitais mais conhecidas do país. Fala de tecnologia, consumo e comportamento com bom humor e carisma.
  • Imma (Japão) – Um ícone fashion de estética minimalista, que transita entre o mundo real e o virtual com naturalidade.
  • Aitana López (Espanha) – Modelo digital criada para atuar como influenciadora fitness e lifestyle, faturando alto em parcerias comerciais.
  • Marisa Maiô e Drica Divina (Brasil) – Criadas com IA, essas personagens apostam no humor e na representatividade para se conectar com o público.

Como Eles São Criados? A Tecnologia por Trás da Ilusão

Por trás de cada influenciador virtual, há um time multidisciplinar formado por designers, programadores, roteiristas, estrategistas e até psicólogos. As ferramentas usadas incluem:

  • Modelagem 3D e renderização – Criam visuais detalhados, expressões e movimentos realistas.
  • Motion Capture – Captura movimentos reais para serem replicados nos avatares.
  • IA generativa e processamento de linguagem natural – Geram falas, respostas, roteiros e até músicas.
  • Algoritmos de personalização – Ajustam o conteúdo com base nas interações dos seguidores.

Esses personagens podem ser programados para serem o que for necessário: divertidos, misteriosos, acolhedores, provocativos. Tudo é planejado, desde o tom de voz até o tipo de conteúdo publicado.

Por Que Seguimos e Admiramos Influenciadores Que Não Existem?

1. A ilusão da proximidade

Nas redes sociais, criamos relações chamadas parasociais: vínculos emocionais unilaterais com figuras públicas. Quando acompanhamos a rotina de alguém, mesmo que essa pessoa seja um personagem digital, sentimos que a conhecemos.

E quanto mais humanizados são esses avatares, mais fácil é esquecer que tudo ali é roteirizado e programado.

2. Emoção acima da lógica

Segundo especialistas, como o psicólogo Luan de Souza, o vínculo com avatares digitais é emocional, não racional. Projetamos neles nossos desejos de acolhimento, companhia, previsibilidade — especialmente em tempos incertos.

Eles sempre “respondem” com empatia, nunca nos decepcionam, não mudam de humor. Essa estabilidade emocional é parte do encanto.

3. A perfeição programada

Influenciadores virtuais não têm dias ruins. Não envelhecem, não adoecem, não cometem gafes ou se envolvem em polêmicas. Sua estética é sempre impecável.

Isso os torna atraentes tanto para o público quanto para marcas: consistentes, controláveis e visualmente sedutores.

4. Representatividade e diversidade

Esses personagens podem representar grupos pouco visibilizados na mídia tradicional: corpos fora do padrão, etnias diversas, diferentes identidades de gênero e orientações sexuais.

Como são “moldáveis”, eles podem ser programados para se conectar com diferentes públicos, abrindo espaço para mais inclusão e inovação estética.

5. O fascínio pelo futuro

Seguir um influenciador virtual também é, para muitos, uma forma de fazer parte do futuro. Há um certo charme em consumir conteúdos que misturam arte, tecnologia, moda e cultura pop com alta sofisticação digital.

Influenciadores Virtuais e o Mercado: Um Casamento Lucrativo

Marcas estão cada vez mais interessadas nesses personagens por várias razões:

  • Controle total da imagem
  • Produção ágil e escalável de conteúdo
  • Conexão certeira com jovens (Geração Z e Alpha)
  • Possibilidade de campanhas em metaverso, realidade aumentada e experiências gamificadas
  • Alta retenção de público e engajamento

O investimento inicial pode ser alto, mas a longo prazo, um avatar digital pode durar anos sem precisar de pausa, salário ou renegociação de contrato.

Questões Éticas e Psicológicas em Jogo

Apesar do sucesso, o fenômeno levanta discussões importantes:

Autenticidade: existe mesmo?

Como confiar em uma recomendação de produto feita por alguém que não sente, não experimenta e não vive como um ser humano?

Transparência

Os seguidores sabem que estão interagindo com um personagem fictício? A falta de clareza pode ser vista como manipulação emocional e afetiva.

Efeitos na autoestima

Comparar-se com um avatar digital perfeito pode afetar a autoimagem. Segundo especialistas, isso pode aumentar ansiedade, insegurança e sensação de inadequação.

Substituição do real pelo fabricado

O risco maior está na substituição total do real pelo artificial. Quando nossos vínculos afetivos passam a ser dominados por personagens sem alma, a solidão e a desconexão podem se intensificar.

O Futuro: Mais Realismo, Mais Interatividade

Com os avanços em IA e computação gráfica, os próximos passos incluem:

  • Avatares que falam em tempo real com voz natural
  • Vídeos gerados por IA com aparência realista
  • Experiências em realidade aumentada e metaversos
  • Personagens com “consciência artificial” básica para diálogos contextualizados

Além disso, artistas e influenciadores humanos já estão criando suas versões virtuais, ampliando ainda mais essa fusão entre carne e código.

Como Lidar com Esse Novo Cenário?

Gostar de influenciadores virtuais não é um problema. O desafio está em não permitir que o mundo programado substitua o mundo real.

Algumas dicas:

  • Consuma com consciência – Lembre-se de que há um roteiro por trás do encanto.
  • Busque conexões humanas – Nada substitui o olhar, a escuta e a presença reais.
  • Questione padrões estéticos irreais – Não compare sua vida com a de personagens digitais.
  • Valorize sua humanidade – Suas emoções, dúvidas e imperfeições fazem parte do que te torna único.

Conclusão: Amor Digital ou Carência Humana?

Os influenciadores virtuais são um reflexo dos nossos tempos. Conectados, hiperestimulados, em busca de afeto e estabilidade, encontramos nessas figuras uma nova forma de relacionamento.

Nos apaixonamos por quem não existe não porque somos ingênuos, mas porque temos necessidades emocionais reais que buscam novas formas de se expressar.

O desafio agora é encontrar equilíbrio. Usar a tecnologia como aliada da criatividade, sem abrir mão do que nos faz humanos: empatia, vulnerabilidade e conexão autêntica.

Com informações de Extra.

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