CL1: Conheça o primeiro computador com neurônios humanos reais

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CL1: Conheça o primeiro computador com neurônios humanos reais

A biocomputação acaba de dar um passo histórico: o CL1, primeiro computador do mundo com neurônios humanos cultivados em laboratório, já está disponível comercialmente. Desenvolvido pela empresa australiana Cortical Labs, o CL1 inaugura uma nova era tecnológica em que o cérebro humano e a computação se encontram de forma literal e prática.

Mais do que um avanço científico, o CL1 representa o início da computação orgânica híbrida, com potencial para superar as capacidades da inteligência artificial (IA) tradicional. Neste artigo, você vai entender como ele funciona, o que é biocomputação, quais são os impactos futuros dessa tecnologia e os desafios éticos envolvidos.

O que é biocomputação?

A biocomputação é uma área emergente da ciência que une biologia, computação, engenharia genética e nanotecnologia para criar sistemas que utilizam células vivas como processadores, e DNA como meio de armazenamento de dados.

Diferente dos computadores convencionais, que operam com componentes eletrônicos, os sistemas biocomputacionais usam matéria viva, como neurônios humanos cultivados em laboratório, para realizar cálculos, aprender e se adaptar a novos estímulos em tempo real.

Características da biocomputação:

  • Alta eficiência energética;
  • Capacidade adaptativa e de autoaprendizado;
  • Uso de DNA como sistema de armazenamento ultra-denso;
  • Processamento paralelo em larga escala;
  • Aplicações em medicina, IA e sustentabilidade.

O nascimento da inteligência organoide

A inteligência organoide (IO) é o ramo da biocomputação que utiliza neurônios cultivados para simular o comportamento do cérebro humano. Essa tecnologia permite que esses neurônios sejam conectados a dispositivos eletrônicos, formando sistemas híbridos capazes de aprender com base em estímulos ambientais, de forma parecida com o cérebro real.

Em 2022, a Cortical Labs chamou atenção mundial com o projeto DishBrain, onde neurônios humanos e de camundongos aprenderam a jogar o videogame Pong ao reagirem a impulsos elétricos. O sucesso desse experimento mostrou que tecidos cerebrais cultivados podem processar informações e aprender em laboratório, dando origem ao conceito prático de inteligência organoide.

O que é o CL1 e como funciona?

O CL1 é o primeiro computador comercial baseado em neurônios humanos reais. Ele une cerca de 800.000 células cerebrais cultivadas em um chip de silício, funcionando de forma híbrida: biológica e eletrônica.

Estrutura do CL1:

  • Neurônios humanos cultivados em meio nutritivo;
  • Chip de silício para comunicação e processamento;
  • Sistema operacional biológico (biOS) que interage com os neurônios;
  • Suporte de vida interno para manter os neurônios ativos por até 6 meses;
  • Conectividade com dispositivos externos via USB ou nuvem.

O sistema operacional biOS cria um mundo virtual simulado, enviando sinais aos neurônios. À medida que esses neurônios reagem, eles influenciam diretamente esse ambiente simulado. Isso permite que o CL1 aprenda e se adapte — uma habilidade ainda limitada nos modelos tradicionais de IA.

O que torna o CL1 único?

Autonomia e sustentabilidade

O CL1 é autônomo — não depende de um computador externo. Todo o processamento, armazenamento e suporte à vida acontecem dentro do próprio dispositivo. Além disso, ele consome muito menos energia que supercomputadores convencionais.

Ética e ciência sem testes em animais

Por utilizar neurônios cultivados em laboratório, o CL1 oferece uma alternativa ética a experimentos com animais, aproximando os testes das reais reações humanas. Isso o torna extremamente útil em áreas como:

  • Neurociência;
  • Pesquisa sobre doenças neurológicas;
  • Desenvolvimento de medicamentos;
  • Estudos sobre cognição e aprendizado.

Avanços científicos até aqui: uma breve linha do tempo

1994 – Computação com DNA

Leonard Adleman realizou a primeira computação molecular com DNA, resolvendo problemas complexos usando moléculas biológicas.

2013 – Transistor biológico

Pesquisadores de Stanford criaram o “transcritor”, um transistor feito de DNA e RNA, capaz de funcionar dentro de células vivas. Isso permitiu cálculos biológicos como detectar estímulos e controlar a reprodução celular.

2022 – Experimento DishBrain

A Cortical Labs treinou neurônios reais para jogar videogames, provando que tecidos cerebrais cultivados podem aprender com estímulos.

2025 – Lançamento do CL1

O primeiro computador biológico comercial é lançado, combinando hardware eletrônico e tecido vivo em um só sistema.

Como adquirir e usar o CL1?

O CL1 já está disponível para compra direta no site da Cortical Labs:

  • Preço: US$ 35.000
  • Versão em nuvem (WaaS): US$ 300 por semana

A opção “Wetware as a Service” permite que centros de pesquisa menores tenham acesso remoto ao dispositivo por meio da Nuvem Cortical, democratizando o uso da tecnologia.

Aplicações práticas da biocomputação com CL1

O CL1 tem potencial para transformar diferentes áreas:

Educação e pesquisa

  • Estudo da plasticidade cerebral;
  • Testes com simulação de doenças neurológicas;
  • Desenvolvimento de modelos cognitivos.

Medicina personalizada

  • Resposta a medicamentos em neurônios humanos reais;
  • Simulação de efeitos neurológicos de longo prazo;
  • Terapias celulares personalizadas.

IA e computação avançada

  • Desenvolvimento de sistemas mais eficientes que a IA tradicional;
  • Aprendizado adaptativo em tempo real;
  • Redução no uso de energia para tarefas complexas.

Desafios tecnológicos e éticos

Limitações técnicas

  • Vida útil dos neurônios limitada a aproximadamente 6 meses;
  • Necessidade de controle rigoroso do ambiente de cultivo;
  • Sensibilidade a variações externas.

Questões éticas

  • É possível que esses neurônios tenham algum tipo de percepção ou dor?
  • Quais os limites para manipulação de tecido cerebral?
  • Como garantir que o uso será estritamente científico?

Segurança e regulamentação

  • Dados sensíveis precisam seguir normas como o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados);
  • Necessidade de leis específicas para biotecnologia computacional;
  • Prevenção de usos indevidos (ex: bioterrorismo, espionagem genética).

Risco de desigualdade tecnológica

  • Custo elevado pode restringir o acesso a grandes centros;
  • Democratização depende de políticas públicas e investimento em ciência aberta.

O futuro da biocomputação

O surgimento do CL1 marca o início de uma nova era. Nos próximos anos, podemos esperar:

  • Maior durabilidade das culturas neurais;
  • Integração com outras formas de IA (como IA quântica);
  • Acesso mais amplo por meio de redes em nuvem;
  • Avanços em terapias para doenças degenerativas;
  • Aplicações em robótica autônoma baseada em inteligência orgânica.

Conclusão

O CL1 é mais do que um computador — é um marco histórico que une biologia e tecnologia de forma inédita. Com neurônios reais processando informações, aprendendo e interagindo com sistemas virtuais, estamos presenciando o nascimento de uma nova forma de inteligência computacional, com potencial para superar a IA tradicional e transformar áreas como medicina, neurociência, educação e sustentabilidade.

Apesar dos desafios éticos e tecnológicos, o caminho está aberto para um futuro onde a computação será viva, adaptativa e incrivelmente eficiente.

Com informações de Meteored Argentina.

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