Estamos diante de um momento crucial para o mundo dos negócios. Mais do que uma simples ferramenta de otimização, a Inteligência Artificial (IA) tem o potencial de reimaginar completamente o funcionamento das empresas. A grande questão que paira entre executivos, estrategistas e líderes de mercado é: sua empresa vai apenas adicionar IA ao que já faz, escolhendo entre evoluir ou reinventar? Vai seguir evoluindo de forma incremental ou aproveitar o momento para se reinventar por completo?
Essa escolha não é simples. De um lado, a evolução gradual pode trazer ganhos importantes com menos risco e menor disrupção. De outro, a reinvenção total oferece a chance de transformar a organização em sua essência, estabelecendo novas bases para operar no futuro.
Evoluir: ganhos incrementais com menor impacto
Em muitos casos, as empresas escolhem evoluir integrando a IA às tecnologias já existentes. Isso permite melhorar sistemas, otimizar fluxos de trabalho, aumentar a produtividade de equipes e acelerar a tomada de decisões. A IA atua como um copiloto, apoiando colaboradores na execução de tarefas, reduzindo o retrabalho e ampliando a eficiência operacional.
Essa abordagem é válida, especialmente em cenários onde a infraestrutura tecnológica já está consolidada e há clareza sobre onde aplicar a automação. O retorno pode ser significativo, com menor investimento e menor resistência organizacional.
No entanto, é fundamental que as empresas avaliem com profundidade o que essa evolução exige: decisões estratégicas sobre a arquitetura tecnológica, investimento em capacitação e mudanças na cultura organizacional. Mesmo o caminho da evolução exige ousadia, planejamento e coragem para tomar decisões difíceis.
Reinventar: transformar a empresa a partir do zero
Na outra ponta do espectro está a reinvenção, e é nesse ponto que mora o potencial mais transformador da Inteligência Artificial. Em vez de apenas aprimorar processos existentes, a reinvenção propõe repensar funções, estruturas e estratégias do zero, muitas vezes substituindo modelos inteiros de operação.
Essa mudança é profunda e desafiadora. Segundo o autor Peter Bendor-Samuel, um dos maiores obstáculos enfrentados por líderes é imaginar como essa transformação se daria no seu contexto específico. Muitas vezes, os gestores se sentem mais confortáveis ajustando o que já existe do que arriscando um redesenho total.
Contudo, evitar a reinvenção pode ser arriscado. Ao ignorar oportunidades de repensar processos, produtos ou modelos de negócio, a empresa se expõe à ameaça de ser superada por concorrentes mais ágeis e inovadores.
Por que a reinvenção é tão difícil — e tão necessária
Reinventar é difícil porque exige romper com paradigmas. É necessário coragem para abandonar processos familiares, estruturas rígidas e formas tradicionais de pensar. Também é necessário investimento, paciência e disposição para enfrentar resistência interna.
Ainda assim, a recompensa pode ser enorme. Empresas que se reinventam têm mais chances de estabelecer novas lideranças de mercado, criar valor de forma sustentável e resistir a mudanças externas drásticas.
Construção de cenários estratégicos: uma ferramenta essencial
Na Everest Group, Bendor-Samuel e sua equipe trabalham com a criação de cenários estratégicos para ajudar líderes a navegar esse ponto de inflexão. Isso inclui dois caminhos distintos: um baseado na evolução e outro na reinvenção.
Para o cenário de evolução, perguntas estratégicas são levantadas:
- Como será o modelo de negócio após a aplicação incremental da IA?
- Quais os investimentos necessários?
- Como as tecnologias e as equipes precisam evoluir?
- Quais os benefícios esperados?
- Que sinais indicam que o mercado está indo nessa direção?
Essas perguntas ajudam a visualizar uma trajetória possível, com menor risco, mas que exige disciplina, planejamento e monitoramento constante.
Já o cenário de reinvenção levanta discussões mais profundas:
- Por que acreditamos que essa função ou processo pode ser reinventado?
- Quais evidências sustentam essa hipótese?
- Quais tecnologias e talentos são necessários?
- Qual o impacto para clientes, colaboradores e parceiros?
- Quais serão os efeitos em cadeia dessa mudança?
Esses dois cenários não se excluem. Pelo contrário, muitas empresas estão adotando abordagens híbridas, evoluindo algumas áreas enquanto reinventam outras. O segredo está em saber identificar qual caminho seguir em cada caso.
Escolhas estratégicas: o que está em jogo?
Quando falamos de funções voltadas ao cliente, como marketing, vendas e atendimento, o risco maior não está em evoluir devagar — está em não reinventar. Se um concorrente consegue lançar um modelo disruptivo que redefine o setor (como a Apple fez com o iPhone), quem não acompanhar essa mudança pode ser eliminado do mercado.
Já nas funções internas, como finanças, RH e operações, a reinvenção não costuma transformar o mercado, mas pode mudar drasticamente os resultados financeiros. Se um concorrente consegue operar com muito mais eficiência e menor custo, ele amplia suas margens e sua lucratividade, tornando-se mais competitivo ao longo do tempo.
Nesse contexto, deixar de reinventar pode não causar um colapso imediato, mas certamente gera uma erosão progressiva do valor e da competitividade da empresa.
A importância da adaptação contínua
O desenvolvimento de cenários deve ser encarado como uma atividade contínua. O futuro é incerto e os sinais mudam com frequência. Uma abordagem estratégica sólida requer o monitoramento constante do ambiente de negócios, da tecnologia e do comportamento dos clientes.
Empresas que adotam essa prática com seriedade ganham vantagem competitiva. Elas conseguem alinhar seus investimentos aos sinais de mercado, criar consenso interno em torno das decisões e atrair os recursos necessários para implementar suas estratégias.
Conclusão: agir com intenção e visão
A Inteligência Artificial vai mudar a forma como operamos empresas. Isso não é mais uma possibilidade — é uma certeza. A verdadeira decisão está em como vamos reagir a essa mudança: com incrementalismo ou com ambição.
Na prática, a resposta mais sensata provavelmente será uma combinação dos dois. Algumas áreas vão evoluir de forma incremental; outras serão reinventadas. O mais importante é fazer essa escolha conscientemente, com base em dados, cenários, sinais e estratégia.
Empresas que ignorarem esse ponto de inflexão correm o risco de serem deixadas para trás. Já aquelas que aceitarem o desafio, tiverem coragem para reinventar o que precisa ser reinventado e disciplina para evoluir o que puder ser mantido, estarão melhor posicionadas para prosperar na nova era dos negócios.
Com informações de Forbes.