Partículas de pneus são uma das maiores fontes de poluição por microplásticos

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Partículas de pneus são uma das maiores fontes de poluição por microplásticos

Quando se fala em poluição por microplásticos, o que vem à mente da maioria das pessoas são canudos, sacolas plásticas ou garrafas PET. No entanto, uma das fontes mais significativas desse tipo de poluição está nos nossos próprios carros: os pneus. E o impacto vai muito além das estradas — chegando aos oceanos, aos alimentos e até aos nossos órgãos.

Segundo um artigo publicado na The Conversation pelos químicos ambientais Boluwatife S. Olubusoye e James V. Cizdziel, da Universidade do Mississippi, as partículas de desgaste de pneus representam cerca de 45% de todos os microplásticos presentes nos sistemas terrestres e aquáticos. Isso ocorre porque, a cada giro sobre o asfalto, os pneus liberam minúsculos fragmentos de borracha sintética, carregados de substâncias químicas tóxicas.

Essas partículas são levadas pela chuva até valas e bueiros, e depois seguem rumo a rios, lagos e oceanos, onde são ingeridas por peixes, caranguejos, ostras e outros animais marinhos. Assim, os poluentes entram na cadeia alimentar, afetando não só a fauna, mas também os seres humanos que consomem esses alimentos.

Um problema invisível, mas perigoso

Peixes como truta-arco-íris, truta-de-riacho e salmão coho já apresentam altas taxas de mortalidade ligadas à exposição a um composto chamado 6PPD-Q, derivado do aditivo 6PPD usado em pneus para evitar sua degradação. Em 2020, pesquisadores descobriram que mais da metade dos salmões coho que voltavam aos rios de Washington para desovar morreram antes disso, devido à contaminação por esse composto.

E o problema não para nos peixes: um estudo feito na China detectou 6PPD-Q na urina de crianças e adultos. Embora os efeitos exatos desse composto no corpo humano ainda estejam sendo estudados, já se sabe que ele pode afetar órgãos como fígado, pulmões e rins.

Poluição detectada até em cidades pequenas

Após duas chuvas em Oxford, Mississippi, os pesquisadores identificaram mais de 30 mil partículas de desgaste de pneu em apenas 24 litros de água de escoamento. Em locais de tráfego intenso, essa quantidade pode ser ainda maior.

Embora entidades como o Interstate Technology and Regulatory Council tenham recomendado a substituição do 6PPD, fabricantes de pneus alegam que não há alternativa viável no momento.

A solução pode estar nos resíduos agrícolas

Pensando em uma resposta simples e acessível, os cientistas desenvolveram um sistema de biofiltração utilizando chips de madeira de pinho e biochar (um tipo de carvão feito a partir de resíduos agrícolas como casca de arroz, aquecido em ambiente com pouco oxigênio).

Esses materiais foram colocados em um “meião” filtrante instalado na saída de bueiros. Durante novas chuvas, os pesquisadores coletaram amostras da água antes e depois da filtragem. O resultado? Uma redução de até 90% nas partículas de pneu.

O segredo está na textura porosa do biochar e da madeira, que “aprisiona” as partículas durante o fluxo da água. Mesmo os fragmentos menores foram capturados pela estrutura intrincada desses materiais.

Filtros naturais e reutilizáveis

Além de eficazes, esses filtros são baratos, sustentáveis e de fácil acesso. Como o biochar é feito de resíduos agrícolas, pode ser produzido localmente com baixo impacto ambiental.

Porém, como todo filtro, ele precisa de manutenção e descarte adequado após o acúmulo de contaminantes. Também é essencial garantir que o material usado tenha passado por processamento térmico, evitando o risco de liberar outros poluentes.

Conclusão: o plástico invisível que respiramos e comemos

A poluição por microplásticos é uma crise silenciosa que ameaça o meio ambiente, a saúde humana e a biodiversidade. Embora soluções como banir sacolas plásticas sejam importantes, é fundamental olhar para fontes ocultas, como os pneus dos nossos próprios carros.

Soluções de baixo custo, como filtros feitos de resíduos vegetais, podem ajudar a combater esse problema de forma efetiva, acessível e ecológica. E mais do que isso, mostram que ciência e inovação podem caminhar lado a lado com a sustentabilidade, mesmo nos desafios mais complexos.

Com informações de The Conversation.

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